Ensaio

Impermanência

“Deus modelou o homem da argila da terra, e inspirou-lhe nas narinas um sopro de vida e o homem se tornou um ser vivente”.  

Do barro irradia-se uma forte energia de conexão com o homem, experimentador, parte desse organismo vivo, que se modela tanto quanto molda-se e expande-se pela própria inconsciência de origem, como parte suprema da criação de uma alma impermanente, quando se dá a mágica de que tudo em si tudo é natureza.

As imagens chegam a mim, também desperta nesse momento de retração do conviver, de pandemia, de isolamento e reflexão enquanto nós natureza, concebo esses retratos, fruto de um convívio imerso nesse ambiente. Diante desta oportunidade, os caminhos foram de reflexão da relação do homem – natureza. Trabalhando com a argila, no propósito da arte da cerâmica, percebi então a sinestésica plasticidade da terra, do barro, da lama em dias de chuva, de sol ardente - em sua permanente dilatação e contração em processo contínuo de respiração da terra, alquímico em nós diante dos elementos ofertados pela Mãe Terra.

Nessas fotos, o curso da existência apresenta-se sob efeitos craquelados, assim como os da terra, signo das nossas próprias rupturas, marcados por uma autonomia relativa do sujeito que sofre em relação a suas ações de criador e criatura, pois a natureza é ampla e complexa na qual o homem está intrinsicamente enraizado, em vida e morte.

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